José
Alves Antunes Filho pertence à primeira geração de encenadores brasileiros, discípulo
dos diretores do Teatro Brasileiro de Comédia. Participa ativamente do
movimento de renovação cênica surgido nos anos 1960 e fins de 1970, e é o
primeiro diretor a empreender uma obra dramatúrgica e cenicamente autoral, com
a montagem de Macunaíma, espetáculo considerado referência para os jovens
encenadores dos anos 1980. Nos anos 1990, desloca suas preocupações para o
Centro de Pesquisas Teatrais (CPT), grupo de produção, formação e
desenvolvimento de novos conceitos e exercícios na busca do refinamento de um
método próprio de interpretação para o ator, onde hoje é diretor, além do
trabalho que realiza junto ao SESC com pesquisas, laboratórios, exercícios e
direção artística de peças e espetáculos.
Abaixo
uma super entrevista feita com o diretor:
Por Elisa
Duarte/Revista contigo!
Há um caminho a
seguir?
- Quem faz o
caminho é a própria pessoa. Não tem certo ou errado. O que eu costumo dizer
para as pessoas que chegam no CPT é que antes de pensar o artista temos que
formar o homem, o cidadão, depois vem o artista. E depois, não há ''o''
caminho, há o caminhar. Um ator não tem que estar nem na partida nem na
chegada, tem que estar no meio, entre as coisas.
Qual o princípio
básico de um ator? O que ele deve desejar em primeiro lugar?
- Não sei. Acho
que o que é importante dizer é que as pessoas vêm já querendo pegar o texto e
sair falando... Mas falando o quê? Para quem? Por quê? De onde? Para quê? Eu
posso ter vontade de tocar piano, mas não tenho técnica, não sei tocar. A
''intenção'' não basta. É preciso técnica, sem técnica o ator não sai do lugar.
Técnica e cultura. Muita cultura: conhecer música, artes plásticas, literatura,
cinema (bom cinema!). Teatro é relação entre as coisas.
Como prepara
atores?
- Eu não preparo
nada. Quem prepara é o processo. O que isso quer dizer? Quer dizer que, no
dia-a-dia, resquícios dos ensaios vão ficando, cada dia de ensaio é uma camada,
um esboço para o quadro que se pretende pintar. Então, nesse sentido, as
pessoas ''se'' preparam, indicamos, apontamos caminhos e abrimos a porta, e a
pessoa segue.
Consegue
distinguir quem tem alma?
- Eu já acertei
algumas vezes e errei outras. Às vezes, eu reprovo alguém nos testes para o
CPTzinho e a pessoa fica brava, triste, chateada. Mas não é nada pessoal. Se
ela for de teatro, nós vamos nos encontrar lá na frente, como já aconteceu
muitas vezes para quem eu já havia dito que não dava e deu. E outras vezes, eu
já falei sim para pessoas que depois entenderam que não eram de teatro. Então,
é muito relativo.
Onde busca
referências?
- As referências
são as coisas mais importantes para qualquer coisa no teatro. Eu sempre peço
para os meus atores assistirem a filmes que tenham relação com o que estamos
trabalhando, irem às exposições, a lerem obras correlatas com aquilo que se
está fazendo. Como é que eu vou fazer alguma coisa sem uma base de onde partir?
Não dá! É tudo sempre um diálogo com alguma outra coisa. Mesmo que eu quebre a
minha referência inicial. Sem base, não se sai do lugar.
Algumas pessoas
desistem da arte da dramaturgia porque não conseguem ganhar dinheiro em um
curto prazo. Como solucionar a questão financeira?
- Quando a gente
quer, a gente se vira. Trabalha à noite, não dorme, não come. O artista é um
inquieto por natureza. O sacrifício no início da carreira faz parte do
aprendizado, com a sorte nos ajudando. Ou será que é a gente que faz a sorte?
Por Anderson Moura
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