25 de mar. de 2012

Solidão, que nada!

Não é segredo que um monólogo é um desafio para qualquer ator. A experiência de estar sozinho no palco, contracenando consigo mesmo, com elementos técnicos e principalmente com a plateia, requer do artista muita coragem e segurança. Mas o que muitas pessoas, principalmente aquelas que não têm uma vivencia teatral não sabem, é que um monólogo não é um “xadrez de uma peça só”, por trás do trabalho do ator, existe toda uma equipe composta de diretores, produtores, cenógrafos, iluminadores, entre outros profissionais que estão fora de foco, mas que acompanham todos os passos do ator o tempo todo, até o fechar das cortinas. 

Abaixo vem um artigo maravilhoso, escrito pelo ator Charles Fricks, contando sobre sua primeira experiência na “solidão” de um monólogo, retirado do site Globo Teatro.

“A partir de 2007 comecei a me questionar: que prazer um ator teria em estar num palco sozinho, encarando um monólogo? Comecei a comentar com amigos sobre essa curiosidade/quase vontade, naquele momento.
Assisti a lindos trabalhos de colegas, já tentando me encaixar naquela imagem aparentemente solitária de um ator e uma plateia inteira que foi ali pra ouvi-lo.
Assisti a Felipe Rocha demonstrando uma coragem absurda ao escrever (sim, escrever é um ato de coragem admirável) e atuar “sozinho” no seu primeiro texto: “Ele Precisa Começar”,  em que brincava com o jogo de ficção e realidade. Com o perdão da brincadeira autorreferida, mas seria o título um recado para minha empreitada futura?
Tive o privilégio de assistir a Regina Braga ,“solitária” e com uma sensibilidade comovedora, ao contar a linda história da poetisa americana Elisabeth Bishop e seu romance com a arquiteta Lota Macedo Soares em “Um Porto para Elisabeth Bishop”.
Em “O Estrangeiro” acompanhei a trajetória “solitária” de Guilherme Leme nos contando um clássico mundial de Camus. Poucos gestos, um lindo texto, um espetáculo de alta classe. Inspirador.
Acompanhei a “solidão” de Chico Diaz no palco do CCBB. Seu tour de force e seu vigor em 1h40m de espetáculo leva a plateia a loucura no texto surrealista de Campos de Carvalho em “A Lua vem da Ásia”.
“Sozinha” e nua, em vários sentidos, Clarice Niskier me reafirmou, em “A Alma Imoral”, que seria importante encontrar algo que me movesse como artista. Alguma história que eu quisesse contar para uma plateia. Encontrei isso quando li o romance “O Filho Eterno”, de Cristovão Tezza. Livro que me foi generosamente indicado pelo ator e amigo Pablo Sanábio.
Durante o processo de ensaio de “O Filho Eterno” fui entendendo que monólogo, ou espetáculo solo, não é solitário! O que meus colegas de ofício entenderam antes de mim é que estamos com uma equipe. Sempre. Quando toca o terceiro sinal, estão todos lá comigo: o diretor, a assistente de direção, o dramaturgo, o figurinista, a cenógrafa, o iluminador, o cenotécnico, os assessores de imprensa, os programadores visuais, os outros atores da Companhia (no meu caso os Atores de Laura)... e, acima de tudo, a plateia.
Uma das coisas que aprendi é que a plateia, num monólogo, está lá no palco conosco mais do que nunca. Eu dependo deles todas as noites. Nossas trocas de olhares, nossas respirações que parecem estar em uníssono, os sorrisos e eventualmente, as lágrimas. Até mesmo os barulhentos papéis de bala, luzes e sons de celulares que insistem em acender e tocar no meio da apresentação. Tudo faz parte do espetáculo naquela noite.
Meu respeito e admiração aos meus colegas que um dia aceitaram o desafio de pular no abismo e encarar um monólogo. Meus votos a outros que virão e sentirão, um dia, o prazer e a delícia de um espetáculo como esse.”
Por Anderson Moura.

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