24 de mai. de 2012

Sinatra, o Imperador de Hollywood

O cinema.com.br fez uma homenagem à carreira cinematográfica de Francis Albert Sinatra que morreu no dia 14 de maio de 1998.
O ator apareceu em mais de 50 filmes, além de ter sido considerado um dos maiores intérpretes da música na década de 1950.


Escrito por Octavio Caruso

Sinatra começou em Hollywood utilizando sua imensa popularidade como crooner da orquestra de Tommy Dorsey, na década de quarenta, em produções modestas (chanchadas) dos estúdios RKO, como “Noites de Rumba” (1941) e “Barulho a Bordo” (1942). Após afastar-se da orquestra e iniciar seu trabalho solo, continuou buscando aperfeiçoar-se como ator. Vale destacar neste período inicial, sua participação no musical: “Quando as Nuvens Passam” (1946), cantando a emocionante “Ol´ Man River” de Jerome Kern e Oscar Hammerstein. O primeiro filme em que teve a oportunidade de construir um personagem foi o divertido musical “Marujos do Amor” (1945), onde fazia dupla com Gene Kelly. Seguindo o mesmo molde, vieram produções que se alternavam entre o tolo/divertido (caso de “A Bela Ditadora”) e o medíocre/embaraçoso (caso de “Beijou-me um Bandido”). A obra que simbolizaria esta época: “Um Dia em Nova York” (1949), vista hoje ainda mantém certo charme, porém talvez tenha sido, dentre os filmes dirigidos por Stanley Donen em sua fase inicial, aquele que envelheceu pior. Musicalmente, o final da década de quarenta estava sendo desolador para o cantor, que via suas canções despencando nas paradas de sucesso. Muitos acreditavam que sua carreira estava acabada.

A década de cinquenta representou o período em que Sinatra ressurgiu, demonstrando extrema ousadia e coragem. Diferente de Elvis Presley, que tinha em seu período em Hollywood, um empresário ganancioso que limitava suas escolhas cinematográficas a produções sem ambição (veículos para sua carreira musical), Sinatra estava livre para decidir seu rumo na indústria. Em “Double Dynamite” (1951), contracenava com Jane Russel e Groucho Marx. Na gema “noir” esquecida “Meet Danny Wilson” (1952), ele interpreta um personagem quase autobiográfico. No ano seguinte, como coadjuvante no belo “A Um Passo da Eternidade” (From Here to Eternity), recebeu um Oscar (entre os concorrentes, estava Jack Palance) e tornou-se novamente interessante para os produtores, que voltavam a apostar em seu nome nos letreiros luminosos. Em “Meu Ofício é Matar” (Suddenly – 1954) realiza aquela que considero sua melhor interpretação: um sociopata que decide assassinar o presidente dos Estados Unidos, de uma janela e com um fuzil de precisão. Quando anos depois, o presidente Kennedy foi vítima de algo similar, o cantor demonstraria seu arrependimento por ter participado da obra (existe um boato mentiroso, que afirma que ele teria impedido a exibição posterior do filme), que o assassino Lee Harvey Oswald afirmou ter assistido um dia antes de cometer o crime. O único vilão que Sinatra interpretou no cinema, numa caracterização ambígua e corajosa, que apontava seu interesse em expandir os horizontes de sua carreira como ator, infelizmente perdida em meio a uma corrente de infortúnios. Após alguns musicais ingênuos, ele novamente viria a demonstrar seu talento em “O Homem do Braço de Ouro” (1955), dirigido pelo genial Otto Preminger. Como um viciado em heroína, recebeu sua segunda indicação ao Oscar, mas desta vez o felizardo foi Ernest Borgnine (por “Marty”). O filme possui vários problemas no roteiro (personagens secundários pifiamente construídos, por exemplo), porém a atuação de Frank sobreviveu ao tempo. Brincadeiras refinadas como “Alta Sociedade” (em que contracenava com Bing Crosby e Grace Kelly) e “Meus Dois Carinhos” ancoravam-se numa fórmula de sucesso, porém somente administravam a “persona” do cantor, nunca a aprimoravam. No final da década ele começou a incluir seus amigos (que formavam a “sociedade” informal “Rat Pack”) em suas produções, como Dean Martin e Shirley MacLaine em “Deus Sabe Quanto Amei” e Peter Lawford em “Quando Explodem as Paixões”.

“Onze Homens e Um Segredo” (Ocean´s Eleven – 1960) é o símbolo da parceria entre os membros do “Rat Pack”, que incluía Sammy Davis Jr. e Joey Bishop. Entre momentos bem engendrados (como a última meia hora) e outros menos inspirados (a hora e meia que a antecede), o que mantém o charme da produção é o clima de camaradagem que exala em cada cena. Os anos seguintes foram de experimentação para o astro, que chegou a dirigir (e estrelar) o bom filme de guerra: “Ninguém foi Tão Valente” (1965). Chegou a contracenar com medalhões como Spencer Tracy (no fraco “A Hora do Diabo”) e Lee J. Cobb (no mais fraco ainda “Come Blow your Horn”). Enquanto considero o já citado “Meu Ofício é Matar” como sua melhor interpretação, “Sob o Domínio do Mal” (The Manchurian Candidate – 1962) é seu melhor filme. Dirigido por John Frankenheimer, Sinatra novamente tocou em um tema espinhoso, vivendo um herói militar que retorna para casa após a guerra, somente para perceber que foi usado em uma trama de espionagem, onde por meio de hipnose foi levado a assassinar até mesmo membros de seu próprio pelotão. Na segunda metade da década de sessenta, protagonizou alguns bons filmes de suspense como “Tony Rome” e “The Detective”. Retornou de forma elegante após longos anos, no fraco drama “The First Deadly Sin” (1980), onde contracenava com a bela Faye Dunaway.

Sinatra será sempre lembrado por sua brilhante carreira musical, porém poucos realmente dão o valor merecido à sua carreira cinematográfica, que é rica. Ele vivia depreciando seus méritos como ator, porém basta um olhar atento ao seu conjunto de obra, para notarmos que em sua versatilidade, abraçava personagens dos mais variados, sempre entregando algo correto e elegante.




Por Thaís Peixoto.

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