25 de mai. de 2012

O que é ser ator, por Paulo Autran

Primeiramente um resumo da vida e o obra de Paulo Autran.
Biografia
Paulo Paquet Autran, em arte Paulo Autran, nasceu no Rio de Janeiro em 7 de setembro de 1922. Com poucos meses de idade foi com a família para Espírito Santo do Pinhal, interior de São Paulo, pois seu pai, delegado de polícia, trabalhava lá, mas em 1927 a família fixou residência na capital paulista. A mãe Madalena faleceu dois anos depois. Embora desde cedo tenha sentido em si o pendor artístico, por influência do pai, formado em Direito, Paulo Autran entrou para a Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em São Paulo, em 1940. Formou-se 5 anos depois e logo montou escritório próprio. Mas em 1946 uma amiga o levou para aulas de teatro, num curso para amadores. Ele, que aos 8 anos já fazia poesias, adorou. No ano seguinte subiu ao palco do Theatro Municipal, em sua primeira peça: "Esquina Perigosa". Seguiram-se outras peças e ele conheceu a atriz Tônia Carrero. Um pouco hesitante, terminou por abandonar a advocacia e, em 13 de dezembro de 1949, estreou em sua primeira peça profissional: "Um Deus Dormiu Lá em Casa". Ganhou seu primeiro prêmio como ator. O destino de Paulo Autran estava traçado. O escritório ficara com o pai, então aposentado como delegado. Em seguida Paulo Autran e Tônia foram convidados por Franco Zampari para trabalharem no TBC (Teatro Brasileiro de Comédia) e também na Companhia Cinematográfica Vera Cruz. Na época eles montavam quatro peças por ano, desde comédias musicais, até peças de grandes autores. Em 1956 Autran fundou com os amigos Adolfo Celi e Tônia Carrero uma companhia teatral, que durou cinco anos. Depois tornou-se ator autônomo, fazendo sempre peças de sucesso, como "My Fair Lady" e "Liberdade, Liberdade". Foi quando entrou em novelas da Globo. Fez: "Gabriela, Cravo e Canela"; "Pai Herói"; "Guerra dos Sexos"; "Sassaricando"; "Hilda Furacão"; "Você Decide". Na Bandeirantes fez "Os Imigrantes". Em verdade sempre disse não gostar de televisão, pois seu coração esteve sempre no teatro. Mesmo assim participou também de inúmeros filmes, tais como: "Terra em Transe"; "Mar Corrente"; "País de Tenentes"; "Fogo e Paixão"; "Oriundi"; "Tiradentes"; "A Máquina"; "O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias". e outros. Como ator de teatro, sempre foi inigualável. Deixou sua marca em peças: "Édipo Rei"; "A Vida de Galileu"; "A Morte do Caixeiro Viajante". . Em 2006, Paulo Autran estreou seu 90º espetáculo, a peça "O Avarento", de Molière, mas teve de interromper a temporada devido aos problemas pulmonares que acabaram por matá-lo. Autran sofria de câncer no pulmão e enfisema. Ao total fez cerca de 90 peças, 15 filmes, inúmeras novelas e especiais televisivos. Foram mais de 50 anos de carreira. Paulo Autran, era casado com a atriz Karin Rodrigues, e foi considerado por todos como o maior ator brasileiro de todos os tempos.


O que é ser ator

Intuição – “Pode acontecer, numa construção de um personagem, aquele dia abençoado de intuição. E tem outras vezes em que esse dia não chega. Vem a temporada toda, a temporada acaba, e você diz: ‘Não teve aquele dia’. Aí é triste. Você faz porque o texto te leva, o teu personagem te leva, mas você sabe que não atingiu, digamos, o fundo, não foi lá. Acontece. O mais engraçado é que a sua opinião nem sempre coincide com a dos outros.”

Verdade – “Um dos melhores exercícios que eu acho em teatro para desenvolver a imaginação do ator é mandar ele dizer ‘Eu quero tomar café’ de n maneiras distintas, porque com isso essa simples frase pode ter muitos significados. Ele só tem que dizer isso, ‘Eu quero tomar café’, então tem que falar essas palavras como se estivesse dizendo ‘eu te amo’, ou ‘eu te odeio’, ou ‘minha mãe acabou de morrer’, ou ‘ainda vou te matar’, e assim por diante. O importante na interpretação é o que o personagem tem em mente ao dizer as frases do texto. Isso é que faz uma interpretação ser verdadeira ou não. Quando o ator decora seu texto feito um papagaio e solta simplesmente as palavras, ele não vai causar impressão alguma.”


Leitura e interpretação – “Não há melhor exercício para um ator do que interpretar um texto escrito só para ser lido. É outro tipo de esforço. Você tem a questão do ritmo, de como transmiti-lo ao vivo para uma platéia. É fantástico. A valorização da palavra é diferente da de um diálogo. O diálogo é escrito para ser dito, e aquele texto, não.”


Estrelas – “Não adianta uma atriz pensar assim: ‘Eu vou ser uma estrela’. O público é quem faz as estrelas. De repente, em um espetáculo de principiantes, você se surpreende com aquela menina no palco que nem é tão bonita assim, mas que tem um negócio que você não tira os olhos dela. Por quê? Porque ela tem carisma. Ela um dia vai ser estrela. Então, são seres que, parece, a natureza botou a mão em cima e abençoou. É a mesma coisa na pintura, na arquitetura: tem gente que tem dom. Teatro é arte, então, não é todo mundo que pode ser artista. Muitas pessoas aprendem, muitas pessoas fazem direitinho e não chegam lá.”


Autobiografia – “Foram pouquíssimos os personagens que eu fiz com os quais eu tinha algum ponto de contato. Um deles, em Depois da queda, de Arthur Miller, tinha muitos pontos de contato comigo, com o que eu estava pensando naquela ocasião, com o que eu achava da guerra, da violência, do mal que cada um trás dentro de si, e que nós somos obrigados a conviver com o mal dos outros e com o nosso mal também. Tudo isso batia naquele tempo, embora a vida do personagem fosse totalmente diferente da minha. Mas eu nunca joguei, conscientemente, a minha infância na criação de um personagem – devo fazer isso inconscientemente.”


Permanência – “Esse fato de o teatro ser efêmero, para mim, é um dos seus encantos. Se eu acreditasse, por exemplo, na vida eterna, talvez me preocupasse em não ficar tanto como vão ficar os autores, quanto vão ficar os filmes, quanto vão ficar os programas de televisão, se é que eles vão poder ser guardados por todos os séculos. Mas para mim não é nenhum problema não ser eterno. E não me interessa a mínima, depois que eu acabe, o que é que vai acontecer.”



"Sou apenas um homem de teatro. Sempre fui e sempre serei um homem de teatro. Quem é capaz de dedicar toda a sua vida à humanidade e à paixão existentes nestes metros de tablado, esse é um homem de teatro."

  Fonte: http://michellaub.wordpress.com/2010/03/21/o-que-e-ser-ator-por-paulo-autran/
 
 
                                                                                                                                           Por Bruno Rangel.

 








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