13 de jan. de 2008

Crítica à MELODRAMA | Monitor Campista, 07 de junho de 2007

MATURIDADE PRECOCE
por Antonio Fernando Nunes

No Brasil, a necessidade alimenta a precocidade. Este texto no entanto não vai envereda-los pelos caminhos da crueza social brasileira. A precocidade aqui é puro pretexto para louvar a doce maturidade de uma menina de 10 anos. É o que se constata assistindo a Melodrama, espetáculo gestado pela escola e Companhia de Arte Persona, no final de semana recém-encerrado.
A companhia comemora uma década de atividades com um projeto acalentado desde 2003. O texto de Felipe Miguez estreou originalmente no circuito carioca em agosto de 1995, no Centro Cultural Banco do Brasil. Lá, como aqui, foi um grande sucesso de crítica e público. Em tempo: aqui praticamente não há crítica teatral. Boas histórias estão sempre sendo reescritas pela humanidade tempos afora. Melodrama segue por esse caminho e acrescente o toque de humor sobre o gênero dramático. Num programa de rádio, na opereta encenada no Municipal do Rio e no espetáculo em si, o público é levado a conhecer duas histórias de amor balançadas por impossibilidades, golpes do destino, mal entendidos. A concepção local do espetáculo projeta o expectador à sensação de estar presente num set de Almodóvar, ou assistindo a mais um capítulo de novela mexicana levada ao ar pelo SBT. O genial cineasta espanhol é uma boa lembrança porque recorre freqüentemente a cores dramáticas – principalmente o vermelho – e a um grande apuro.
No trabalho da Cia. Persona esses elementos estão no palco. E mais, um elenco afinado, que já fez vários trabalhos junto. Boa luz, música e direção. Na saída, uma colega jornalista comenta: “cara parece aqueles espetáculos do Rio”. Essa deve ser uma das impressões positivas que o público em geral teve do espetáculo. Algo com apuro, com uma estrutura de bastidores, de história para chegar à estréia, que nos leva a crer que a cidade vive um tempo promissor em termos teatrais. No recente festival nacional de teatro, que aconteceu no mesmo Trianon, o público pôde ver espetáculos de alto nível e rever um grande sucesso de outro grupo campista, o Núcleo Estudo de Teatro, com o Alto do Ururau. Único da cidade a participar do evento tal foi o rigor da seleção. A questão é que embora Campos seja uma cidade de grandes teatralidades – vide nossa vida política, o número espantoso de financeiras e de carros novos e velhos nas ruas – há preconceito com o teatro local. Pelo trabalho do Persona e outros grupos o campista típico bem que pode desarmar seu espírito tradicionalmente descrente das coisas da paróquia. Numa miopia ainda insistente, veículos de comunicação costumam evitar divulgar nomes de patrocinadores e apoiadores de obras artísticas. É uma maneira lamentável de afugentar apoios tão caros às artes. Por isso louve-se a posição do Monitor que permite reconhecer aqui a iniciativa do Super Bom - rede de supermercados que percebeu a oportunidade de patrocinar um projeto tão bem cuidado e acabado. Com muita persistência a companhia de teatro conseguiu o incentivo previsto na Lei Rouanet. É verdade que por falta de mais Super Bom renunciou a maior parte do potencial de recurso. Mas estreou, e bem.

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