17 de set. de 2008

Maldito e indispensável > Monitor Campista 17/09/2008

Carla Cardoso

Nascido em Pernambuco, Nelson Rodrigues foi um dramaturgo irreverente, que apimentava suas obras com o trágico das relações humanas, causando sempre um choque na platéia. Por isso, é amado por muitos e, ao mesmo tempo, odiado por outros. Também jornalista e escritor, despediu-se da vida em dezembro de 1980, deixando um legado de valiosas obras que vira e mexe voltam aos palcos. Aos fãs de Nelson Rodrigues uma boa notícia: este mês, o Sesc-Campos está apresentando o projeto ‘Autores Malditos’, com calendário vasto de atrações, entre elas, uma performance que será montada hoje, às 20h, pela Cia. de Arte Persona.

Tomando como ponto de partida a obra do dramaturgo, a performance (sob direção de Tânia Pessanha e encenada pelos atores: Ferdinanda Maia, Lênin Willemen, Lívia Ataíde e Yves Baeta) traz fragmentos de textos rodriguianos — aliados a uma trilha contundente e uma estética do trágico e doentio de sua obra. Segundo Tânia, o trabalho é resultado de uma profunda pesquisa corporal, que conduz a platéia a emoções surpreendentes e, muitas vezes, incômodas.

— A obra de Nelson Rodrigues se passa sempre dentro de uma família e ele era considerado um autor que provocava uma reação muito contundente na platéia e é interessante como que ele consegue provocar isso até hoje — comenta a diretora, referindo-se à reação do público que ela presenciou na apresentação de ‘Senhora dos Afogados’ (produzida e dirigida por sua filha, Sunshine Pessanha) no Festival de Teatro de Rio das Ostras deste ano).

No próximo sábado, a Persona volta ao palco do Sesc para apresentar a peça ‘Desejo’, sob direção de Mahelle Cristina e Rodrigo Caldas, com supervisão de Tânia. “A gente vem estudando a obra de Nelson Rodrigues desde a montagem de ‘Decote’, que em 2003, nós remontamos, participamos de vários festivais e ganhamos prêmios importantes. Depois, fizemos ‘Melodrama’ e, ao estudar este gênero, voltamos a Nelson Rodrigues”, explica Tânia.

Segundo ela, em 2006, dois atores da companhia montaram ‘A serpente’, com o texto original. Depois de algum tempo, eles foram estudando outros textos de Nelson e essas leituras acabaram originando a montagem ‘Desejo’, que é um texto inédito e muito dramático. “O Nelson ressalta muito essa coisa das doenças psicológicas e sociais e centra seus personagens muito na família, na tara, na neurose, nos absurdos. É um espetáculo centrado no desejo mesmo”, diz Tânia.

SINOPSE
Partindo de leituras de textos de Nelson Rodrigues e exercícios dramáticos baseados nos personagens e situações mais comuns na obra do renomado dramaturgo, o texto fala de traição e loucura, amor e ódio, das neuroses humanas através da relação de duas irmãs. Quando Lígia é abandonada pelo marido, Guida lhe faz uma proposta tentadora e ao mesmo tempo traumática.

A partir daí sucede-se uma série de acontecimentos dramáticos, culminando num final surpreendente. “O texto é como uma pintura, uma obra de arte, cada um interpreta de uma forma. E é isso que o torna tão fascinante. Partindo da trama de ‘A Serpente’ inserimos situações e personagens com características do universo rodriguiano, levando ao público uma experiência teatral que retrata um pequeno painel de suas tragédias suburbanas”, diz Tânia.

No elenco: Décio Pessanha, Ferdinanda Maia, Lênin Willemen, Nathália Pereira e Yves Baeta. A pesquisa musical leva a assinatura de Décio Pessanha, Mahelle Cristina e Rodrigo Caldas. Já a edição sonora ficou a cargo de André Ferreira. A cenografia e a iluminação foram preparadas pelo próprio elenco/direção, enquanto a operação de som e a iluminação são feitas por Mahelle Cristina e Francisco Pereira, respectivamente. Ingressos: R$ 2 (comerciantes), R$ 3 (estudante, usuário e idosos), R$ 4. Censura: 16 anos.

MALDITOS
O projeto Autores Malditos também conta com outras atividades, a exemplo da oficina ‘Mímica Teatral - Interpretação gestual’, que começa hoje e vai até o dia 24 (às 14h), com o ator Jiddu Saldanha. ‘Nelson Rodrigues – o que há de trágico nas tragédias cariocas’ é o título da oficina que a diretora teatral Sunshine Pessanha vai ministrar nos dias 20, 21, 27 e 28 deste mês, às 14h e 16h. O trabalho terá como foco um estudo mais aprofundado de elementos próprios da tragédia através de algumas obras do autor.

Já no período de 10 a 25, de terça a quinta-feira, às 14h30, Artur Gomes comanda a oficina ‘Cine, Teatro, Vídeo e Poesia’, em que vai trabalhar com a produção de vídeos e a utilização da Internet como meio de divulgação da arte. Vale lembrar que todas as oficinas são gratuitas.

CINEMA
Sob a curadoria de Luiz Carlos Pires, o Sesc também destaca alguns filmes na programação, sempre às 19h e com entrada franca. Os próximos são: ‘Contos Proibidos do Marquês de Sade’ (dia 19) e ‘Dois Perdidos Numa Noite Suja’ (dia 26).

No primeiro, os cinéfilos vão conhecer o destino desconhecido do famoso escritor que viveu em um asilo nos últimos 10 anos de vida. De Philip Kaufman, com Geoffrey Rush e Kate Winslet. Alemanha/EUA/Inglaterra, 2000. Censura: 16 anos.

Já a segunda produção mostra a saga de dois brasileiros, imigrantes ilegais em Nova York, que têm sonhos de prosperar nos Estados Unidos. Eles enfrentam as adversidades do dia-a-dia, até que a prisão de um deles muda completamente os planos da dupla. De José Joffily, com Débora Falabella e Roberto Bomtempo. Brasil, 2003. Censura: 16 anos.

ESPETÁCULO
Encerrando o projeto, a platéia confere o espetáculo ‘Cachorro’, dia 27, às 20h e inspirado no roteiro de Patrícia Mello. A peça conta a trajetória de um triângulo amoroso composto por uma mulher e dois homens que são amigos há muito tempo. Texto de Jô Bilac, direção de Vinicius Arneiro, com o grupo Teatro Independente. Ingressos: R$ 2 (comerciantes), R$ 3 (estudante, usuário e idosos), R$ 4. Censura: 16 anos.

PROJETO AUTORES MALDITOS
Com espetáculo, performances, oficinas e exibição de filmes.
Até o final de setembro
No Sesc-Campos (Av. Alberto Torres, 397, Centro)

Um comentário:

Anônimo disse...

Esse fotógrafo é SHOW, hein? =P

Estarei lá assistindo!

Ed.