12 de dez. de 2009

Diretora teatral cobra política cultural > Folha da Manhã > 11/12/2009



Com quase quatro décadas de experiência, Tânia Pessanha dirige há 12 anos a Cia. de Arte Persona, uma companhia e escola de teatro que, além de preparar talentos para ganharem os palcos da região e além, conta com um dedicado grupo de pesquisa que busca desenvolver não apenas novos projetos, mas refinar a dramaturgia que lhe é característica, a fim de imprimir em cada peça aquilo que chamam de “assinatura”. Entre um ensaio e outro, a atriz e diretora de teatro, que leva o espetáculo “Tele-cenas” ao Teatro Municipal Trianon no dia 19, encontrou tempo para falar à Folha da Manhã sobre a política cultural de Campos, como parte da série de reportagens sobre teatro que a Folha Dois vem publicando nas últimas semanas. E é a não renovação do pensamento político — uma característica que, aponta, não é exclusividade desta ou daquela administração, mas da casta governante do município como um todo — que ataca em entrevista exclusiva, defendendo a bandeira do diálogo aberto a questões mais pertinentes do que a prática do entretenimento em detrimento da arte.

— Acredito que não há, em Campos, uma política cultural. Falta tudo. Não vejo a relação da gestão com quem produz cultura na cidade. É pouca ou nenhuma. Às vezes, só com amigos — afirma Tânia, que busca decifrar o pensamento daqueles que ocupam e já ocuparam o poder na planície. — Essas pessoas se sentem possuidoras de tal conhecimento que sabem definir exatamente os desejos e necessidades do público. Isso é monárquico. Parecem reis por direito divino — completa.

Tânia, que define a Persona como um “sonho”, uma “utopia pessoal”, afirma que a política municipal praticada nesses 13 anos — período que pôde acompanhar através da companhia de teatro — foi voltada a eventos e, embora não seja adequada, vem sofrendo pioras visíveis com a queda da qualidade das peças que são trazidas para a cidade. Falta, ainda, segundo a diretora, o apoio ao trabalho local.

— Embora não ache correta uma política de eventos, exclusivamente, não condeno a compra de grandes shows, afinal, nem todo mundo pode ir ao Rio de Janeiro. O problema é que, se no passado, vinham espetáculos de qualidade, agora, vemos apenas produtos exclusivamente comerciais e vazios, de gente egressa do programa global “Zorra total”. Não vejo como equívoco trazer espetáculos comerciais, desde que eles tenham algo a dizer, mas, sim, o ato de não fomentar aquilo que é nosso, o que é da cidade. Não sei que plano o governo atual está trançando, mas, até agora, parece não existir nada. A gestão ainda não mostrou a que veio — opina.
Por Marcos Curvello

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