15 de abr. de 2012

Augusto Boal

Nascido no Rio de Janeiro em 1931, Augusto Boal foi um dos mais importantes diretores e autores de teatro do país. Após estudar na School of Dramatics Arts da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, onde foi aluno do dramaturgo John Gassner, Boal passou a dirigir no Teatro de Arena de São Paulo. Foi nesse mesmo teatro que, em 1960, estreou sua peça Revolução na América do Sul, protagonizada por José da Silva, homem do povo vítima de todas as explorações da classe dominante.

A partir do golpe militar de 1964 e em parceria com Gianfrancesco Guarnieri, Boal inaugurou a linha nacionalista do Arena com Eles Não Usam Black-tie. Lançou Arena Conta Zumbi e mais tarde Arena Conta Tiradentes.

Em 1971, depois de preso e torturado pelo regime militar, Boal foi exilado e passou a desenvolver experiências teatrais em diversos países, onde obteve reconhecimento do público, da crítica, de estudiosos e do meio teatral.

Até a sua morte, em 2009, Augusto Boal viveu no Rio de Janeiro e dirigiu o CTO - Centro de Teatro do Oprimido. Sua peça O Homem Que Era Uma Fábrica foi montada no Brasil pela primeira vez pela Cia Arthur Arnaldo 

Abaixo, uma entrevista feita com o grande dramaturgo, assinada por Ana Paula Cassettari da equipe de O Palco.

OPalco – O que despertou seu interesse por teatro? Como ingressou na carreira de autor e diretor teatral?

No meu livro, HAMLET E O FILHO DO PADEIRO, uma autobiografia, eu explico isso direitinho. Ou melhor, explico que isso não é racionalmente explicável. Muitas pessoas tiveram infâncias parecidas com a minha e nem todas se entusiasmaram pelo teatro. Talvez o fato de ficar sentado na ponte na frente da minha casa, olhando as pessoas passarem, tenha me influenciado a ver o que há de teatro na vida e de vida no teatro.

OPalco – O que é e como atua o CTO – Centro de Teatro do Oprimido?

Nossos Curingas ajudam grupos sociais (empregadas domésticas, comunidades, usuários de um hospital psiquiátrico, grupos temáticos, etc.) e desenvolverem aquilo que seus componentes já possuem dentro de si mesmos porque são seres humanos: a capacidade de expressarem teatralmente suas idéias e suas emoções com o corpo, a voz, o movimento, etc. Ajudam-nos a usarem o teatro como forma de estudarem a realidade e prepararem a sua transformação.

OPalco – O senhor costuma dizer que o teatro é um meio de transformação subjetiva. O que isso significa?

Shakespeare disse em Hamlet que o teatro é um espelho onde podemos ver nossos vícios e nossas virtudes: para mim, é um espelho mágico onde podemos penetrar e transformar a nossa imagem em outra melhor. Como sabemos, o ato de transformar é transformador: não é preciso ser poeta para se escrever um poema mas quem escreve um poema se torna um poeta. A transformação deve ser subjetiva e objetiva.

OPalco – O que é o Teatro Invisível? Como o senhor o concebeu?

É uma cena que se representa em qualquer lugar sem que se advirta a platéia de que se trata de uma cena ensaiada: o espectador pode se tornar ator e o ator torna-se espectador do espectador-ator. Ficção e realidade se interpenetram. No meu livro JOGOS PARA ATORES E NÃO ATORES há dezenas de exemplos disso.

OPalco – O senhor foi preso devido a censura durante o regime militar. Ainda existe algum tipo de censura ao trabalho do artista no Brasil?

Fui preso pela horrenda ditadura cívico militar que roubou o Brasil dos Brasileiros. Antes, existia a censura da polícia, agora existe a da sedução: se fizermos aquilo que os financiadores desejam, teremos todos os recursos necessários., Se quisermos fazer o que desejamos nós, nenhum. Hoje já não existe mais a figura do Diretor Artístico: quem escolhe o que vai ou não ser montado, quem escolhe o elenco, tudo, são as empresas através da famigerada lei Rouanet.

OPalco – Como o senhor avalia o panorama do teatro brasileiro nos dias de hoje?
Ninguém pode responder. O teatro brasileiro não é só o eixo do sudeste, mas temos o norte, o nordeste, o sul, o centro-oeste: quem conhece isso tudo? Ninguém.

OPalco – O senhor estudou dramaturgia nos EUA. Qual é a importância de sua formação para o caráter de seu trabalho no teatro? O que o senhor aprendeu de mais significativo com os gringos?

A minha maior formação foi olhar o povo nas ruas, as pessoas no trabalho, no lazer, ouvir sonhos e metas, pensar. Na escola a gente aprende certas técnicas. Aprendi.

OPalco – Na peça “O Homem Que Era Uma Fábrica”, escrita em 1972 e em cartaz pela primeira vez no Brasil, o senhor critica o desejo dos latino-americanos em fazer a vida nos EUA. É um tema muito atual. Acredita que algo mudou desde então? A Era Bush abalou o “sonho americano” de se viver num país livre?

Em primeiro lugar, os US são uma ditadura disfarçada. Só quem tem bilhões de dólares (as grandes corporações) pode concorrer à presidência da República. Isso é democracia??? Claro que não. Os US são uma Plutocracia: manda quem tem dinheiro. Mas existe ainda gente desesperada buscando emprego, que quer e precisa de emprego seja até no inferno. E lá vão eles em busca de um paraíso que não existe, ou melhor, existe sim, mas só para os ricos.

Augusto Boal morreu em maio de 2009 devido a uma insuficiencia respiratória. O teatrólogo sofria de leucemia e estava internado desde abril do mesmo ano.

Fonte: http://www.opalco.com.br/foco.cfm?persona=materias&controle=123
http://www.estadao.com.br/noticias/geral,morre-augusto-boal-o-criador-do-teatro-do-oprimido,364445,0.htm

Por Anderson Moura

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