8 de jun. de 2012

O Mágico de OZ

Superprodução de R$ 9 milhões leva ao palco os mitos de ‘O Mágico de Oz’
Espetáculo, de Charles Möeller e Claudio Botelho, estréia na próxima semana no Rio

RIO - São 14 cenários, mais de 300 figurinos, complexos efeitos especiais (explosões, atores voando, bruxa derretendo) e R$ 9 milhões de investimento. Tudo isso para que a viagem da menina Dorothy rumo ao outro lado do arco-íris reconquiste seus contornos épicos. Desde 1939, quando foi lançado, "O Mágico de Oz" não contaminou apenas o cinema, mas diversos aspectos da vida humana. Sua trama e seus signos se tornaram tão conhecidos que praticamente se banalizaram.O espetáculo que estréia na próxima sexta-feira no Teatro João Caetano, numa temporada de três meses com horários diurnos e noturnos, é o 31º e maior da dupla de diretores Charles Möeller e Claudio Botelho.


— Acho brega vender a idéia de que é o maior — afirma Claudio. — Mas a verdade é que o "Mágico" tem sido montado como peça infantil de uma hora de duração, de 4 às 5 da tarde, só com quatro personagens e cachorro de isopor. Estamos fazendo com 35 atores, todas as músicas compostas para o filme e um requinte que o público não vai encontrar se for ver a história num teatrinho da Barra da Tijuca.

"O Mágico de Oz" marcou época por ser um dos pioneiros filmes coloridos de Hollywood. Os sapatinhos de Dorothy, prateados no romance de Frank Baum, se tornaram vermelhos. Seu sucesso rivalizou com o do contemporâneo "...E o vento levou" — Victor Fleming, diretor do segundo, foi um dos que realizaram o primeiro, cujo comando foi mudando ao longo da produção. A estrela Judy Garland nasceu ali. Musicalmente, os temas de Harold Arlen e Yip Harburg influenciaram o que viria a seguir.

— É muito seminal. O tema da bruxa, que hoje pode lembrar "Tom & Jerry", foi criado ali. A cançoneta dos Munchkins virou até canção de ninar, mas nasceu ali. E "Over the rainbow" é uma das músicas mais populares de todos os tempos — diz Claudio.

No aspecto comportamental, o filme antecipou a febre da autoajuda. A jornada de Dorothy é uma busca por si mesma.

— Fica claro que a busca pela felicidade é frustrante, porque não se pode idealizar o futuro. Felicidade é estar no presente, aqui e agora — afirma Charles, também destacando a metáfora do ciclone que faz a casa de Dorothy voar. — Para Baum, se você não entrar no olho do furacão, não se salva. O ser humano tem a tendência de ficar na periferia do furacão, debatendo-se e achando-se infeliz.

E o arco-íris ainda virou símbolo dos gays, derivação de uma história em que a Cidade das Esmeraldas é um lugar onde se pode ser o que se deseja e, pela primeira vez em musicais, há um personagem claramente homossexual: o Leão Covarde.

Convidado para realizar um teste, Lucio Mauro Filho ganhou o papel do Leão, no primeiro musical de sua carreira. A pedido de Charles e Claudio, ele reforça as características gays do personagem. Situações que estavam no roteiro do filme mas não chegaram à tela foram incorporadas ao espetáculo, como o momento em que o Leão se senta no cilindro de óleo do Homem de Lata e não percebe.

Para Charles, a delicadeza com que Dorothy se depara no sonho contrasta com o estado americano do Kansas, onde ela vive com os tios e seu cãozinho Totó (quatro cachorros reais se revezam no papel):

— O Kansas é rústico. Quando ela vai para o mundo de Oz, encontra um leão gay, um homem que chora porque não tem coração e um espantalho desengonçado e carinhoso.

Miele vive o Mágico de Oz

Os principais nomes do elenco atuaram em outros espetáculos da dupla de diretores. Nicola Lama, de "Um violinista no telhado", é o Homem de Lata, e Pierre Baitelli, de "O despertar da primavera", faz o Espantalho. Já Dorothy é interpretada por Malu Rodrigues, conhecida de quem viu "A noviça rebelde", "7 — O musical", "Beatles num céu de diamantes" e outros. No papel da Bruxa Má do Oeste está Maria Clara Gueiros, com quem os dois trabalharam em "As bruxas de Eastwick".

A exceção é Luiz Carlos Miele. O veterano produtor e >ita< o faria quem escolher de hora na disso lembraram se que Claudio, e Charles com algo fazer tempo muito há desejava>

— Miele é o Mágico de Oz brasileiro — afirma Claudio. — Ele ajudou a inventar a bossa nova sem ser músico. Dirigiu Elis Regina e Roberto Carlos, ajudando a criar essa gente sem ser essa gente. E agora tem feito sucesso como ator, em filmes e participações na TV, dizendo que não é ator.

Na história de Baum e do filme, o mágico é falso. Ele se aproveita de que ninguém manda na Cidade das Esmeraldas para ocupar o poder, exercendo-o sem mostrar a cara, falando grosso por trás de uma máscara gigante.

— É uma poderosa metáfora política — ressalta Charles.

Ele e Claudio estudaram por quase um ano "O mágico de Oz" e seus significados. Essas informações não estão em primeiro plano, mas podem ser encontradas na montagem.

— Você pode assistir como a historinha cartesiana da Dorothy ou começar a ver os signos — diz Claudio.

Prova de que o fascínio por Oz não morre é que a versão de Andrew Lloyd Webber está em cartaz em Londres e um dos maiores sucessos da Broadway, "Wicked", também se passa no mundo criado por Frank Baum.

A versão encenada pela primeira vez no Rio nunca chegou à Broadway. Foi feita pela Royal Shakespeare Company na década de 1980 e se propõe a ser uma transposição ampliada do filme para o palco. Falas, canções e músicas incidentais descartadas em 1939 estão no espetáculo de mais de duas horas de duração. Mas a concepção visual não segue rigorosamente a de Hollywood.

— Aquela estética papel crepom do Technicolor era muito forte. Tiramos aquele colorido tipo drops Dulcora e fizemos algo mais adulto — diz Charles.

O estilista Fause Hauten (figurinos), o cenógrafo Rogério Falcão e o iluminador Paulo César Medeiros cuidaram de dar uma nova cara à Estrada dos Tijolos Amarelos, às papoulas e outras marcas de "O mágico de Oz". Esse trabalho e os efeitos especiais conferem ao musical o status de ter a logística mais complicada de todos os já feitos por Charles e Claudio com a produtora Aventura.

— Eu diria que é a maior produção que estará em cartaz no eixo Rio-São Paulo — diz Aniela Jordan, da Aventura.

E é a última da parceria da empresa com os dois diretores. Eles trabalharão, a partir de agora, com a Geo Eventos.

— Essa mudança foi um ciclone na nossa vida. É prova de que, como se diz, ninguém passa por Oz impunemente — afirma Charles.



Fonte: http://oglobo.globo.com/cultura/superproducao-de-9-milhoes-leva-ao-palco-os-mitos-de-magico-de-oz-5097893



Vídeo dos ensaios da nova montagem de o mágico de OZ


 
                                                                                                                                     Por Bruno Rangel

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