24 de jun. de 2012

Teatro Cego em “O Grande Viúvo”




“Não se assustem, depois de cinco minutos a gente se acostuma com o escuro”, anuncia uma das produtoras da peça com sua bengala na mão. Do lado de fora, o público é organizado em fila, um tocando o ombro do outro à frente, para ser posicionado dentro do teatro. Completamente na penumbra somos guiados por auxiliares com uma lanterninha.

Até chegar à cadeira alguns tropeções são inevitáveis e a confiança em que está te guiando tem que ser total. O cheiro na sala lembra o de um velório que prenuncia o título do espetáculo, O Grande Viúvo. O texto de Nelson Rodrigues ganhou uma adaptação sensorial seguindo um formato criado em Córdoba, na Argentina.

Depois que todos são acomodados, a peça começa. A aflição de estar na escuridão completa realmente passa em uns cinco minutos. Os passos e as respirações apontam para o posicionamento dos atores no palco. Quatro dos seis em cena são deficientes visuais. Uma banda ao vivo é responsável pela trilha sonora que anuncia que vai começar.

O conto tirado do livro A Vida como Ela é traz o drama de um viúvo sofrendo a perda da esposa. Ele comunica a família que quer morrer e ser enterrado ao lado dela e passa a dedicar seus dias à construção de um mausoléu. O desfecho cômico dá o tom rodriguiano.

O trabalho para dar a atmosfera da história é todo baseado na voz, no som e nos cheiros. Uma trilha sempre igual pontua a mudança das cenas que sempre vem acompanhadas por um aroma diferente. Se a conversa entre os personagens é durante o café da manhã, um cheirinho de café coado nos envolve. As imagens ficam a cargo de cada espectador que a partir desta experiência completa o espetáculo na própria cabeça.Quando O Grande Viúvo acaba, as luzes não se ascendem e a sensação de ter colocado os sentidos à prova no teatro é realmente nova. Como bem diz o slogan da peça, “você precisa não ver”.

Fonte: Bravo Online
Por Anderson Moura

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