“Não se assustem, depois de cinco minutos a gente se acostuma com o escuro”, anuncia uma das produtoras da peça com sua bengala na mão. Do lado de fora, o público é organizado em fila, um tocando o ombro do outro à frente, para ser posicionado dentro do teatro. Completamente na penumbra somos guiados por auxiliares com uma lanterninha.
Até chegar à cadeira alguns tropeções
são inevitáveis e a confiança em que está te guiando tem que ser total. O
cheiro na sala lembra o de um velório que prenuncia o título do espetáculo, O Grande Viúvo. O
texto de Nelson Rodrigues ganhou uma adaptação sensorial seguindo um formato
criado em Córdoba, na Argentina.
Depois que todos são acomodados, a peça
começa. A aflição de estar na escuridão completa realmente passa em uns cinco
minutos. Os passos e as respirações apontam para o posicionamento dos atores no
palco. Quatro dos seis em cena são deficientes visuais. Uma banda ao vivo é
responsável pela trilha sonora que anuncia que vai começar.
O conto tirado do livro A Vida como Ela é traz o drama de um viúvo sofrendo a
perda da esposa. Ele comunica a família que quer morrer e ser enterrado ao lado
dela e passa a dedicar seus dias à construção de um mausoléu. O desfecho cômico
dá o tom rodriguiano.
O trabalho para dar a atmosfera da
história é todo baseado na voz, no som e nos cheiros. Uma trilha sempre igual
pontua a mudança das cenas que sempre vem acompanhadas por um aroma diferente.
Se a conversa entre os personagens é durante o café da manhã, um cheirinho de
café coado nos envolve. As imagens ficam a cargo de cada espectador que a
partir desta experiência completa o espetáculo na própria cabeça.Quando O Grande Viúvo acaba, as luzes não se ascendem e a
sensação de ter colocado os sentidos à prova no teatro é realmente nova. Como
bem diz o slogan da peça, “você precisa não ver”.
Fonte: Bravo Online
Por Anderson Moura
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