29 de abr. de 2012

A Atualidade de Bertholt Brecht

por Clotilde Tavares

Bertolt Brecht (1898-1956) é a maior figura do teatro alemão do século XX. Dramaturgo, poeta e diretor, tornou-se conhecido no mundo inteiro pela criação de uma estética teatral que recebeu o nome de “teatro épico”, oposta ao “teatro dramático”. Preocupado com a diminuição da percepção crítica do espectador, que o levava a envolver-se emocionalmente com as obras que via, diminuindo seu poder de discernimento, Brecht propõe o teatro épico, baseado no que ele chamou de “distanciamento”, onde se torna claro o artifício da representação cênica.

E o que significa isso? Significa que, durante todo o tempo de apresentação da obra teatral, o espectador é impedido intencionalmente de emocionar-se com as situações, sendo levado sempre a questioná-las, a problematizá-las, a analisá-las criticamente. Para isso, a ação – que no teatro brechtiano é mais narração do que ação propriamente dita - é várias vezes interrompida através de personagens especiais que comentam com o público os acontecimentos e levantam as possibilidades de ação dos personagens. Como exemplo bem claro temos o texto Aquele que diz sim e aquele que diz não onde, como o próprio título indica, a representação mostra duas versões da mesma história, determinadas ambas pelo “sim” ou pelo “não” de um dos personagens.

O objetivo do teatro de Brecht é prioritariamente a formação de um espectador crítico, que tenha no teatro um meio de auxiliar-lhe a tomar decisões que se refletirão politicamente na sua vida prática. É isso que o torna atual, é isso que o torna eterno, permanente, um clássico, em suma.

Para obter esse efeito torna-se transparente, no seu teatro, a visão dos bastidores da representação cênica. Os contra-regras entram em cena e entregam objetos aos atores, as transformações de cenário são feitas à vista da platéia e os valores ideológicos do texto são claramente definidos. Usa-se todo tipo de informação “não-teatral”, como cartazes, por exemplo. No teatro brechtiano, declaradamente não aristotélico, a catarse é excluída.

O teatro de Brecht tem uma importância didática fora do comum na formação de cidadãos conscientes e críticos e isso tem sido usado ao longo dos cerca de setenta anos que decorreram desde que ele começou a produzir suas peças. No Brasil, o grupo Companhia do Latão, sediado em São Paulo, é uma referência na representação da obra brechtiana entre nós.

Mas não é só isso. Bertolt Brecht ainda recuperou para o teatro o uso da música como integrante orgânico da ação cênica, usando-a em todas as suas peças. Com seu parceiro Kurt Weil criou obras imortais, como a conhecidíssima Mack the Knife. Algo que sempre se esquece de dizer sobre Brecht é que ele foi um poeta inspirado e dono de um texto pleno de beleza. Seu papel como diretor e criador de uma obra politicamente engajada muitas vezes nubla a sua grande capacidade e força poética.

Inicialmente na Alemanha, e depois em vários países, incluindo os Estados Unidos, para onde emigrou fugindo do tacão nazista, Brecht criou obras imortais como A Ópera dos Três Vinténs, Aquele que diz sim e aquele que diz não, Os Fuzis da Senhora Carrar, Mãe Coragem e Seus Filhos, A Vida de Galileu, O Senhor Puntilla e seu Criado Matti, O Círculo de Giz Caucasiano, entre tantas outras.

Em 1949 Brecht voltou para Berlim Ocidental, onde ele e sua segunda mulher, a atriz Helene Weigel, fundaram uma companhia teatral, o Berliner Ensemble que o tornou mundialmente reconhecido e aclamado. Brecht morreu em 14 de agosto de 1956.

Fonte: http://clotildetavares.com.br/teatro/brecht.htm

Por Anderson Moura

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