Em 2016, todas as pessoas com “melanina acentuada” são obrigadas
a saírem do Brasil e voltarem para a África, seu “país de origem”. A medida
governamental absurda é o mote de Namíbia, não!, peça de estreia de Lázaro Ramos
como diretor nos palcos e que volta para a agenda cultural, agora no Teatro
Glauce Rocha, no Rio de Janeiro.
O texto de Aldri Anunciação, responsável também por interpretar
um advogado bem-sucedido, explora o tema racismo em uma comédia dramática com
ironia já no cenário. Em uma sala completamente branca, só com objetos brancos,
ele e seu primo André (Flávio Bauraqui), estudante de Direito, estabelecem
reflexões sobre a identidade e o convívio racial na sociedade.
Naquele ano, o governo brasileiro decidiu enviar de volta para a
África todos os afro-descendentes como uma maneira de reparar os anos de
escravidão de seus antepassados. Enquanto tentam se esconder dos policiais que
querem levá-los para a Namíbia, os dois fazem graça da situação em
interpretações espelhadas no trabalho de Lázaro Ramos na televisão e no cinema.
Com conteúdo crítico, a peça não consegue, porém, manter o
equilíbrio e ganha um tom próximo ao panfletário. O relato, por exemplo, de
dados estatísticos históricos do descaso contra os negros traz a tona um
realismo que diminuiu a força do enredo surreal, o ponto forte da proposta de Namíbia, não!.
Fonte: Revista BRAVO!
Por Hugo Gandra.
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