30 de mai. de 2012

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A exposição O Mundo Mágico de Escher, no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro, terminou em 27 de março de 2011, um domingo. Era dia de dois jogos importantes do campeonato carioca: Fluminense x Vasco e Flamengo x Madureira. Havia a previsão de estádios cheios. Mas fila mesmo foi a que se formou na rua Primeiro de Março, no Centro, em volta do prédio histórico do CCBB-RJ. Enquanto 34 mil pessoas dirigiram-se para os campos, 39 mil decidiram ver as 92 gravuras e desenhos do artista holandês M. C. Escher (1898-1972). No último fim de semana em que esteve em cartaz, a mostra ficou aberta até a meia-noite e registrou 62 mil visitantes.
O reconhecimento internacional veio no mês passado. De acordo com o ranking divulgado anualmente pelo jornal inglês The Art Newspaper, a exposição brasileira foi a mais vista do mundo em 2011. Em cartaz por pouco mais de dois meses, a mostra de Escher levou 573.691 pessoas ao CCBB-RJ. Com a inédita primeira colocação, o evento ficou na frente de exposições em instituições de prestígio internacional, como o japonês Tokyo National Museum (segundo lugar) e o francês Grand Palais (quinto). O Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMA, e o D’Orsay, em Paris, não figuram entre os dez primeiros, como seria de esperar. Respeitado no meio das artes visuais, The Art Newspaper promove o ranking desde 1996. Para elaborá-lo, o jornal computou dados de mais de 400 instituições culturais de todo o mundo, levando em conta o total de visitantes das exposições temporárias e o período em que permaneceram em cartaz.
“Desde que começamos o mapeamento, a popularidade das mostras cresceu. Mais pessoas estão vendo arte”, diz um dos editores, Javier Pes. De fato, nas primeiras edições do ranking, a frequência registrada pelos museus não superava 3 mil pessoas por dia. No ano passado, o número que levou o CCBB-RJ ao pódio foi de 9.677. Para Pes, o resultado de 2011 não é uma surpresa. No ano anterior, três mostras do próprio CCBB-RJ – Islã, Linha de Sombra, da gaúcha Regina Silveira, e Rebelião em Silêncio, da alemã Rebecca Horn – ficaram bem posicionadas, com os 13º, 14º e 15º lugares, respectivamente. “Finalmente surgiu um rival de peso para os museus japoneses”, aponta o editor.
BEM NA FOTO
Segundo o diretor da instituição carioca, Marcelo Mendonça, os espaços interativos, a permissão para o uso de máquina fotográfica dentro do centro cultural e a entrada gratuita foram cruciais para a popularidade do CCBB: “Na exposição de Escher, era comum ver jovens se fotografarem diante das obras e colocarem as imagens nas redes sociais. Tivemos uma divulgação espontânea sem precedentes em nossa história”. Apesar de não constarem do ranking do The Art Newspaper, o CCBB de São Paulo e o de Brasília também ostentam longas filas. A instituição deve inaugurar em outubro seu quarto endereço, desta vez em Belo Horizonte. A fórmula é a mesma: ocupação de uma construção histórica restaurada – no caso, um palacete na praça da Liberdade, na Savassi.
Não há dúvida de que o Brasil entrou no calendário das megaexposições internacionais, chamadas pelos especialistas de blockbusters, como a de Escher. Há dez anos, Mendonça tinha dificuldade em convencer grandes museus a ceder suas coleções para nossas mostras. “Isso mudou. Recebi recentemente visitas do Smithsonian, de Washington, e do D’Orsay. Ambos querem expor aqui.” No ano passado, a diretoria do Pompidou interessou-se em saber mais sobre “a tal instituição” que figurou tão bem no ranking. “Claro que o feito merece comemoração”, diz Rodrigo Moura, curador do Instituto de Arte Contemporânea Inhotim, de Minas Gerais. “Melhor ainda, porém, vai ser quando essa notícia incentivar o investimento em museus com coleções permanentes, já que o CCBB não tem acervo próprio.”
Para mais informações sobre a vida e a obra de Escher, clique aqui.

Por Hugo Gandra.

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